Rede de Proteção de Jornalistas e Comunicadores
Foto: Pedro França / Agência Senado

Jornalista é condenada a indenizar advogado da família Bolsonaro após ter sido ameaçada

Ao ser ameaçada por Frederick Wassef, a jornalista divulgou publicamente as mensagens ofensivas proferidas pelo advogado. A decisão da justiça obrigou a colunista a pagar R$10 mil a Wassef

Por: Isabela Alves

No dia 9 de junho, o juiz Fabio Coimbra Junqueira, da 6ª Vara Cível do Tribunal de Justiça de São Paulo, condenou Frederick Wassef, advogado do presidente Jair Bolsonaro (PL), a pagar R$ 10 mil por danos morais no processo movido pela jornalista Juliana Dal Piva, colunista do UOL.

No entanto, o juiz também condenou a jornalista a pagar R$10 mil pela divulgação de mensagens enviadas por Wassef com as ofensas. 

A jornalista realizou uma investigação do esquema de rachadinhas envolvendo os filhos de Bolsonaro. A reportagem revelou por meio de áudios as conexões do presidente e a apropriação de salário de servidores na Câmara dos Deputados. 

Diante das graves acusações, a colunista pediu a versão do presidente. Em resposta, Wassef escreveu ofensas a jornalista: “Faça lá o que você faz aqui no seu trabalho, para ver o que o maravilhoso sistema político que você tanto ama faria com você. Lá na China você desapareceria e não iriam nem encontrar o seu corpo”. 

Segundo o despacho do juiz, “em nenhum momento, fica implícito ou explícito que ele a ameaça, justamente por dizer, em seguida, que em território brasileiro não ocorre esse tipo de comportamento como nos demais países citados por ele (Cuba, Venezuela, Argentina e Coreia do Norte). Logo, entende-se que o réu não pensa que a autora será perseguida por exercer sua profissão no Brasil”.

O magistrado entendeu que Juliana Dal Piva deve indenizar Wassef por ter denunciado o caso. Para Junqueira, é “ilícita a publicação não autorizada da mensagem, não o seu envio a determinada pessoa em particular. Isso porque as comunicações entre particulares são sigilosas”. 

Em nota, a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) classifica a decisão judicial como grave violação ao exercício do jornalismo, abrindo precedente perigoso para as liberdades de expressão e de imprensa no Brasil: “Sentenças assim inviabilizam novas denúncias e estimulam o silêncio das vítimas, aumentando o sentimento de impunidade que se instalou no ambiente democrático brasileiro”. 

Fonte: Abraji

Foto: Pedro França / Agência Senado

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