Rede de Proteção de Jornalistas e Comunicadores
Caçada com três motos da Polícia Militar, cada uma com seu motorista uniformizado em preto, com a sede da polícia ao fundo

Jornalistas são ameaçados após denúncia sobre grilagem de terras, no Pará

Policiais militares foram até responsáveis por um episódio dos assédios que acontecem desde junho do ano passado

Por Gabriela Costa

A equipe do jornal independente Tapajós de Fato está recebendo ameaças depois da publicação de uma reportagem que denunciava grilagem de terras públicas, no Pará. A polícia militar foi, inclusive, responsável por um dos episódios de perseguição, de acordo com nota divulgada pelo Sindicato de Jornalistas do estado e pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).

O veículo, que atua na região oeste paraense, é focado em direitos humanos e outras questões socioambientais. Segundo os jornalistas, esses assédios têm acontecido desde junho do ano passado.

As ameaças

O principal caso de perseguição do jornal aconteceu no dia quatro de dezembro, quando uma parte da equipe estava em Belém. Em público, um homem começou a fotografar o grupo e falar em tom de voz alto como o veículo era responsável por espalhar notícias falsas.

O indivíduo acusou algumas denúncias específicas de serem enganosas durante essa situação, como a de um deslizamento de uma barragem de resíduos de mineração da empresa Alcoa e a das vendas de terras no PAE Lago Grande. O Tapajós de Fato (TdF) também foi acusado de ter seu trabalho financiado por ONGs, sindicatos e Partidos Políticos.

Mesmo esse sendo o episódio mais marcante, a equipe já havia notado movimentações suspeitas há alguns meses. Em junho de 2021, o primeiro caso de perseguição ocorreu quando um carro deu ré na direção de um dos integrantes da redação do Tapajós de Fato, na via pública de Santarém. 

Mais tarde, a partir do mês de agosto, veículos começaram a estacionar em frente à sede do jornal. Os motoristas ficavam analisando o fluxo de entrada e saída do local e também tirando fotos.

Em dezembro, o jornal noticiou que um advogado, defensor de ruralistas, foi preso por desviar dinheiro ilegalmente no Lago Grande. O coordenador do TdF recebeu uma ligação de uma mulher em seu número pessoal que o acusava de propagar fake news sobre o ocorrido.

A pessoa afirmava saber a localização não apenas da sede do jornal, mas também da residência de todos os membros da redação. Outras chamadas com conteúdos parecidos continuaram por mais dois dias, sendo feitas por um número de telefone com o DDD de Belém.

Em 2022

Mesmo com a virada do ano, os assédios não pararam. Em fevereiro, um veículo seguiu o coordenador do Tapajós de Fato até sua residência e os passageiros também realizaram registros fotográficos do trajeto.

No dia dois do mesmo mês, duas viaturas da Polícia Militar pararam um ônibus para a cidade de Belterra no qual estava um integrante da equipe do jornalista. Os policiais solicitaram que apenas o jornalista descesse do transporte público para uma revista de rotina, mas a cobradora afirmou que uma situação como aquela nunca havia acontecido antes. A PM não informou o motivo pelo qual apenas uma pessoa foi revistada fora do veículo.

Foto: Wikimedia Commons

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