Rede de Proteção de Jornalistas e Comunicadores
Foto: Geraldo Magela / Agência Câmara

Estudo aponta que 98% dos jornalistas negros têm dificuldades para se desenvolver na carreira

Levantamento “Perfil Racial da Imprensa Brasileira” apontou que apesar da população brasileira ser majoritariamente negra, apenas 20,10% desta população está presente nas redações

Por Isabela Alves

No Brasil, 98% dos jornalistas que se declaram como pretos ou pardos consideram que os profissionais negros enfrentam mais dificuldades em suas carreiras do que os colegas brancos. 

Entre as dificuldades apontadas está a cultura da empresa que privilegia brancos, a chefia que sempre é branca, a discrminação pela aparência e o ambiente de trabalho majoritariamente branco. 

A afirmação foi divulgada no estudo “Perfil Racial da Imprensa Brasileira”, realizado pelo Jornalistas&Cia, Portal dos Jornalistas, Instituto Corda e I’MAX. O mapeamento ouviu 1.952 profissionais.

A pesquisa buscou fazer uma análise sobre as redações brasileiras, como por exemplo, quantos jornalistas negros e de outras etnias atuam nas redações do país, como se situam as hierarquias das redações e qual é o impacto desse perfil na produção jornalística nacional. 

A pesquisa apontou que mais da metade dos profissionais entrevistados (57%) sofreram algum tipo de discriminação nas redações. As ações racistas mais relatadas foram preconceito racial em geral, discriminação pela aparência, discriminação no tratamento profissional e assédio racial. 

85% das entrevistadas que são mulheres negras relataram situações de racismo e machismo. Entre os problemas enfrentados estão a misognia e racismo, assédio, identificar a mulher como incapaz ou inapta a profissão, e discriminação no tratamento profissional. 

Em relação a escolha de pautas e fontes que definem as notícias, os entrevistados identificaram que as escolhas são enviesadas pela recusa de temas ligados a questões raciais e que existem preferências por fontes brancas.

O racismo no ambiente de trabalho 

A população brasileira é majoritariamente negra (56,10%). No entanto, segundo os dados do censo do PNAD/IBGE, apenas 20,10% desta população está presente nas redações. A expressiva maioria (77,60%) se autodeclarou branca. 

Ainda, 61,3% da população branca ocupa os cargos gerenciais nas redações. A pesquisa identificou que, ao contrário dos jornalistas brancos, os profissionais de imprensa negros são maioria (60,2%) em cargos operacionais, como se repórter, redator e produtor. 

A disparidade entre jornalistas negros e brancos em cargos gerenciais também é alarmante: De acordo com a pesquisa, a faixa salarial mais básica – de até R$ 3.300,00 – predomina entre os profissionais negros (41,7%). O percentual é quase o dobro se comparado à proporção relativa dos profissionais brancos, sendo que somente 22,9% se encontram nessa faixa.

Fonte: Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji)

Imagem: Geraldo Magela / Agência Câmara

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