Imagem: Anna Nekrashevich / Pexels / Creative Commons

Presidente da SaferNet se exila após ameaças

Thiago Tavares foi para a Alemanha depois de ser intimidado por atuar no combate a crimes digitais

Por Gabriela Costa

A SaferNet Brasil anunciou que o presidente da ONG, Thiago Tavares, se auto-exilou na Alemanha após receber inúmeras ameaças. A organização tem o objetivo de garantir a segurança e o respeito aos Direitos Humanos dentro da internet.

De acordo com a carta, as ameaças vinham acontecendo desde outubro de 2021, quando Tavares participou de uma mesa sobre desinformação e discurso de ódio no “II Seminário Internacional do Tribunal Superior Eleitoral (TSE)”. As intimidações aumentaram ainda mais a partir de novembro, quando um funcionário foi vítima de um sequestro relâmpago perto da sede da organização, em Salvador.

Os quatro criminosos estavam armados, levaram o celular e notebook e a denúncia também afirma que houve violência de caráter LGBTfóbico. A agressão aconteceu a uma distância de 800 metros do local onde se encontrava Tavares.

A SaferNet também relatou que, em dezembro, encontrou evidências de que o computador do presidente havia sido comprometido pelo malware Pegasus, programa utilizado para espionar ilegalmente ativistas de direitos humanos e jornalistas. 

Por conta das constantes ameaças e da possível tentativa de espionagem, Tavares deixou o país e chegou em Berlim, na Alemanha, no sábado (4). O exílio voluntário é uma medida de segurança extrema e será estendido até a situação ser esclarecida.

SaferNet Brasil e Thiago Tavares: quem são

A SaferNet Brasil é uma organização não governamental e sem fins lucrativos, fundada em 2005, para combater crimes virtuais e violações de Direitos Humanos no ambiente online. Na época de sua criação, não havia muitos projetos focados nesses temas e a entidade se tornou a principal referência na área.

Entre seus muitos projetos, a organização é mais conhecida pelo seu papel de combate à pornografia infantil online, um posicionamento que exerce de forma pioneira. Em 2008, quando o debate sobre crimes virtuais ainda não era tão intenso, Thiago Tavares já pressionava o Google e órgãos de justiça por apontar o Orkut como o “paraíso de pornografia infanto-juvenil.”

Pegasus, o software de espionagem

A ferramenta encontrada no computador de Tavares foi desenvolvida pela empresa israelense NSO Group. Semelhante a um vírus, o programa possibilita o acompanhamento secreto de todas as funções do aparelho infectado, como leitura de mensagens, imagens, conhecimento da localização e acesso à informações de redes sociais e contas bancárias.

O software também permite que o microfone e a câmera sejam ativados a distância e sem o consentimento do usuário, o que permite que ele escute ligações e tire fotos em segredo.

Todas essas funções acontecem porque o Pegasus consegue explorar uma série de brechas nos códigos de segurança tanto do IOS, da Apple, quanto do Android, do Google. Muitas dessas falhas já foram corrigidas por ambas as empresas, mas celulares desatualizados e brechas não detectadas ainda são aproveitados pelo software.

A SaferNet entregou um relatório técnico para a Apple, marca do qual era pertencente o notebook de Tavares, para a Adobe Brasil e para o CERT.Br (Centro de Estudos, Resposta e Tratamento de Incidentes de Segurança).

Em julho de 2021, depois do início da exportação do software, em julho de 2021, já foram descobertos pelo menos 180 jornalistas, 600 políticos, 85 ativistas e 65 empresários que foram foram vigiados pela ferramenta. 

No Brasil, Carlos Bolsonaro estava intermediando para uma possível contratação do software de espionagem pelo Ministério da Justiça, uma informação revelada em maio, pelo UOL. Depois da divulgação do texto, a empresa se retirou do processo.

Imagem: Anna Nekrashevich / Pexels / Creative Commons

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